A Manhã de Cuidado na Salinha Rosa
Na manhã de 26 de abril de 2025, o bairro de Peixinhos, em Olinda, Pernambuco, acordou com um burburinho diferente. A Salinha Rosa, um espaço pequeno mas cheio de alma, localizado no coração de Olinda, o ABC da Mamã estava pronta para receber um evento que prometia mais do que atendimentos médicos gratuitos: prometia cuidado, acolhimento e um sopro de esperança para as mulheres da comunidade. O sol ainda tímido iluminava as ruas, mas dentro daquelas paredes, a energia era quente, vibrante, quase palpável.
A Salinha Rosa, com seus móveis simples e decoração feita de afeto – com frazes motivacionais, e um cartaz escrito à mão que dizia “SEJA INCRÍVEL PARA ALGUÉM” –, parecia maior do que era. Desde cedo, às 7h, as portas já estavam abertas, e o cheiro de café fresco misturava-se ao som de vozes animadas e risadas tímidas. O evento, organizado pelo coletivo ABC da MAMA, tinha um propósito claro: oferecer consultas médicas gratuitas para mulheres, muitas das quais não tinham acesso regular a cuidados de saúde. Mastologista, clínicas gerais, Psicólogo, Fisoterapeuta e voluntárias se uniram para transformar aquela manhã em um marco.
Dona Eliane, uma senhora de 53 anos com olhos que carregavam histórias não contadas, foi uma das primeiras a chegar. Sentada em uma cadeira de plástico, segurando a bolsa no colo, ela confessava à vizinha: “Faz anos que não faço um exame. A gente vai deixando pra depois, né? Mas hoje eu vim.” Sua fala, carregada de alívio, ecoava o sentimento de tantas outras que, entre mães, avós e jovens, formavam uma fila respeitosa, mas cheia de expectativa.
A dinâmica era simples, mas fluía com uma organização que parecia coreografada. Enquanto algumas mulheres aguardavam sua vez, outras conversavam em rodinhas improvisadas, compartilhando dicas sobre criar filhos, lidar com o orçamento apertado ou simplesmente rindo de alguma história do cotidiano. As crianças, sempre presentes, corriam pelo quintal ao lado, brincando sob o olhar atento de uma voluntária.
Dentro da Salinha, cada consulta era mais do que um exame. Os médicos, com seus jalecos brancos e escutas atentas, ouviam não só os sintomas, mas as vidas por trás deles. Teve quem saísse com uma receita na mão, quem recebesse um encaminhamento para exames mais detalhados, e quem, como a jovem Alana, de 19 anos, simplesmente chorasse de emoção por finalmente ser ouvida. “Eu vim com medo, achei que ia ser rápido, mas o Psicólogo me tratou como se eu fosse única”, disse ela, enquanto enxugava o rosto com as costas da mão.
Entre um atendimento e outro, a mesa de lanches era um ponto de encontro para os médicos. Pães de queijo, bolo de milho e suco de caju, tudo doado por autônomos, alimentavam não só os corpos, mas também o senso de união. Uma das voluntárias, Dona Chris, não parava de circular e perguntando: “Tá tudo bem por aqui?” Seu jeito de mãe cuidando de todos fazia a Salinha Rosa parecer uma extensão da casa de cada uma.
Quando o relógio marcou meio-dia, o evento chegou ao fim, mas ninguém parecia querer deixar o espaço. Mais de cinquenta mulheres haviam sido atendidas, e cada uma levava consigo algo além de orientações médicas: a sensação de ser vista, cuidada, valorizada. As conversas continuaram na calçada, com promessas de voltar, de ajudar no próximo evento, de espalhar a notícia. A Salinha Rosa, com sua simplicidade, havia feito o que sempre faz: transformado uma manhã comum em um abraço coletivo.
Enquanto as voluntárias arrumavam o espaço, uma brisa suave entrou pela janela, como se aprovasse o que acontecera ali. A coordenadora do ABC da Mamã, Sandra Motta, olhou ao redor e sorriu. “É por isso que a gente não desiste”, pensou. E a Salinha Rosa, agora silenciosa, descansava, pronta para acolher o próximo dia de cuidado.